1º CICLO
DE LEITURAS NO NUESTRO SUR BRASIL
Nos meses
de novembro/dezembro de 2017 iniciamos o ciclo de leituras no Nuestro Sur Brasil com a temática das Ciências da Natureza e Materialismo Dialético. Nosso
principal objetivo era levantar questões que fizessem um paralelo entre as
observações obtidas pelas ciências da natureza e, como poderíamos
interpretá-las pelo prisma do método materialista e dialético.
Ao longo
desses dois meses fizemos seis encontros. Nosso fio condutor partiu da ligação entre
as considerações de Friedrich Engels em sua obra “A Dialética da Natureza” com
as categorias da dialética hegeliana.
1º ENCONTRO
Lemos no
primeiro encontro o prólogo escrito pelo biólogo marxista, J. B. S. Haldane,
com seus comentários e considerações da obra de Engels.
Sendo
Marx e Engels, os fundadores do materialismo histórico e dialético, ou em
outras palavras: fundadores da visão invertida da dialética hegeliana, partimos
dessa base concreta em busca de afirmar que antes da história humana, haveria
de existir uma história natural. Isto é, haveria de existir uma dialética da
natureza que pudesse dar conta de explicar que a humanidade é produto dessa
natureza que contém sua historicidade. Que a humanidade ao se desenvolver,
criou condições e mecanismos que pudessem falar de uma concepção de natureza
que não se esgotasse de criar novas organizações.
O
primeiro texto foi um convite para compreender esse cenário na qual a visão do
materialismo dialético poderia contribuir para o entendimento diante dos
processos de descobertas e mecanismos que engendram a dinâmica da natureza e
suas complexidades.
Link para o texto:
A DIALÉTICA DA NATUREZA (prólogo, Friedrich Engels)
Link para o texto:
A DIALÉTICA DA NATUREZA (prólogo, Friedrich Engels)
2º ENCONTRO
O
segundo encontro concentrou em refletir e analisar parte da obra “O
Materialismo e o Empiriocriticismo” de V. I. Lênin. Na qual a tarefa de Lênin
era refutar a concepção idealista de Ernst Mach que influenciou muitos
cientistas, como o russo Alexander Bogdanov.
Seguindo
a tradição e a corrente marxista, Lênin se apoia em algumas ideias de Engels
para responder as concepções reducionistas e mecanicistas, diante o
materialismo dialético.
Desenvolvendo
e aprofundando ainda mais os caminhos lançados por Engels, Lênin travou um
grande debate intelectual em resposta aos cientistas que diziam que a noção do
materialismo havia perdido sentido frente as novas descobertas da física. Muito
pelo contrário, Lênin mostrou em sua obra que o materialismo dialético está
ainda mais sólido. Com as novas descobertas nos campos da física, em 1905 com a
teoria da relatividade especial de Einstein, bem como o Nobel que recebeu pelo
efeito fotoelétrico, mostrava uma natureza ainda mais com noções antagônicas e complementares,
que é o caso da dualidade onda e partícula, e a relação espaço-tempo frente a
finitude da velocidade da luz.
Link para o texto:
MATERIALISMO E EMPIRIOCRITICISMO (V. I. Lênin, 1975)
Link para o texto:
MATERIALISMO E EMPIRIOCRITICISMO (V. I. Lênin, 1975)
3º ENCONTRO
Em
paralelo as novas descobertas no campo da física, o terceiro encontro firmou
uma homenagem ao cientista físico e químico russo-belga Ilya Prigogine pelo seu
centenário de nascimento. Nesse encontro refletimos a teoria das estruturas dissipativas,
que foi concedida pela comunidade científica em 1977 pelo prêmio Nobel de
química.
Da
corrente seguida por Engels e Lênin, podemos analisar que Prigogine chegou mais
perto da noção de Dialética da Natureza. Enquanto Engels e Lenin faziam suas
reflexões dentro da história da ciência, mostrando o avanço de novas
descobertas, de contradições que no decorrer da história foram sendo superadas,
Prigogine contemplou todas essas noções dentro do próprio fenômeno que estava
estudando. Isto é, das transformações da matéria em outras formas de movimento.
A teoria das estruturas dissipativas dentro do materialismo dialético é um
ganho sem precedentes do pensamento marxista frente aos fenômenos da natureza. Em
resposta a Engels, a teoria desenvolvida por Prigogine não pressupõe leis
gerais da natureza, mas sempre leis de aproximações locais dos fenômenos naturais.
Nesse sentido, as categorias meramente metodológicas da dialética não tornam
regras universais, mas locais. Sendo assim, recuperando a noção do método
dialético que não se cristaliza em leis universais.
4º ENCONTRO
No
quarto encontro focamos em aprofundar as questões concernentes acerca da
natureza da realidade. Lemos parte do livro “A Nova Aliança” escrito por
Prigogine em colaboração com Isabelle Stengers, e o tópico “Fazer existir” do
livro “A Invenção das Ciências Modernas” da Isabelle Stengers. Nessa leitura
discutimos a noção de realidade e as atividades humanas que sustentam as
diversas formas de existência fenomenológica observadas ou descobertas por
cientistas em laboratórios.
Um elemento
essencial que apareceu no texto de Lênin que lemos no segundo encontro é sobre
a ideia de um mundo exterior independente da consciência humana. Esse elemento de
discussão é retomado no livro “A Nova Aliança”. Este texto recupera o diálogo
entre o idealista d’Alembert e o materialista Diderot.
Dentro dos
campos de exploração e inteligibilidade, Diderot vence a disputa de ideias
sustentando diversas atividades que ligam a noção de um mundo exterior independente
da consciência humana. Sua análise sobre o processo de desenvolvimento de um
ovo é sustentada por uma noção exterior a esse ovo que se alimenta de matéria e
energia. Buscando uma resposta à pergunta de como que a partir de uma matéria
inerte possa surgir um embrião, uma matéria viva, Prigogine e Stengers avançam
nessa questão introduzindo os conceitos de irreversibilidade, auto-organização,
historicidade da matéria e flecha do tempo. Dando um passo adiante da noção de
Dialética da Natureza.
Link para o texto:
FAZER EXISTIR (Isabelle Stengers)
A NOVA ALIANÇA (Prigogine e Stengers)
Link para o texto:
FAZER EXISTIR (Isabelle Stengers)
A NOVA ALIANÇA (Prigogine e Stengers)
5º ENCONTRO
O quinto
encontro ficou marcado pelo poder de síntese do professor da academia soviética
de ciências, Khalil M. Fataliev.
No texto
que lemos do livro “O Materialismo Dialético e as Ciências da Natureza”
Fataliev usa uma abordagem histórica sobre a relação entre as ciências naturais
e o materialismo dialético, buscando saber em quais condições o materialismo
dialético surgiu por volta da década de 1840.
Sua
análise foi totalmente cuidadosa com a história e a filosofia da ciência,
apontando os principais embates de ideias entre a escolástica e o materialismo metafísico,
bem como o idealismo neopositivista e o materialismo dialético.
Link para o texto:
O MATERIALISMO DIALÉTICO E AS CIÊNCIAS DA NATUREZA (Kh. Fataliev)
Link para o texto:
O MATERIALISMO DIALÉTICO E AS CIÊNCIAS DA NATUREZA (Kh. Fataliev)
6º ENCONTRO
No sexto
e último encontro rolou uma dinâmica de fechamento do primeiro ciclo de
leituras, com encaminhamentos para os próximos passos a serem construídos nessa
perspectiva de ciência que exploramos ao longo dos dois meses. Isto é, uma
afirmação positiva de que há uma dialética da natureza e uma concepção de
realidade independente da consciência humana, mesmo que seja apenas a consciência
humana que busca mediar esta realidade criando sistemas de inteligibilidade para
seus esquemas representativos.